Um bom projeto é aquele que observa e aprende do passado porém, com um olho no futuro. Para Ondřej Chybik e Michal Kristof, cofundadores da CHYBIK + KRISTOF, a melhor forma de respeitar a história e a memória de um lugar é reinterpretando-as. Contando atualmente com sedes em Praga, Brno e Bratislava, o escritório foi fundado em 2010 por Ondřej e Michal. Operando com mais de 50 funcionários através de uma equipe multidisciplinar, a principal área de atuação do escritório encontra-se nas lacunas espaciais e sociais presentes nos espaços públicos e construídos das cidades.
Considerando uma ampla gama de diferentes aspectos associados a um projeto de arquitetura, Ondřej e Michal trabalham ombro a ombro com a sua equipe de arquitetos, urbanistas, pesquisadores e educadores, desenvolvendo uma variedade de distintas soluções e abordagens, que vão desde o planejamento urbano até edifícios públicos e privados. Em recente entrevista para o ArchDaily, os dois co-fundadores falam sobre as suas inspirações e a forma como trabalham atualmente, refletindo sobre o significado da arquitetura nos dias de hoje.
O que os levou a estudar arquitetura?
Michal Kristof: Acredito que sempre quisemos ser arquitetos, para nós não havia outra opção.
Ondřej Chybik: Meu pai foi professor na Faculdade de Arquitetura de Brno. Quando criança, costumava visitá-lo e lá e era impossível não se entusiasmar com os projetos dos alunos. Eu tinha uns 11 anos quando decidi o que queria fazer da minha vida.
Vocês poderiam nos contar mais sobre como foi que surgiu o CHYBIK + KRISTOF?
Ondřej Chybik: Nós nos conhecemos ainda como alunos na escola de arquitetura em Brno. No início, competíamos entre os dois nos principais concursos de arquitetura que encontrávamos pela frente, mas com o tempo acabamos percebendo que tínhamos opiniões e ideias muito parecidas sobre a arquitetura. Durante esse tempo de formação, trabalhamos como estagiários na Dinamarca e na Áustria. Também estivemos estudando fora do país—na Bélgica e na Suíça. Graças a essas experiências, aprendemos que a colaboração é a alma de um bom estudante e também de um escritório de arquitetura de sucesso. Foi assim que acabamos decidindo nos unir e fundar um escritório multidisciplinar de arquitetura que busca transcender fronteiras. É esse ambiente que continua a dar forma ao nosso trabalho, um ambiente inspirador e criativo.
Quais tipos de projeto vocês costumam desenvolver em seus escritórios?
Michal Kristof: Nosso portfólio é bastante amplo e diversificado. Atualmente, estamos a trabalhando em diversas frentes, como a modernização da histórica Praça Mendel em Brno; em um edifício em altura na cidade de Ostrava, que será também o edifício mais alto da República Tcheca; além de uma mega arena multiuso em Jihlava; o novo terminal do Aeroporto Vaclav Havel em Praga; e, talvez o mais diferente deles, um campus escolar em Mulbekh, implantado próximo ao Himalaia, na Índia.
Com as evidentes mudanças em nosso planeta, sejam elas climáticas, tecnológicas ou construtivas, de que forma vocês acham que isso afetará o trabalho dos arquitetos e como eles devem se preparar para enfrentar os desafios do futuro?
Ondřej Chybik: Aspectos relacionados à sustentabilidade estão se tornando cada vez mais importantes. Arquitetos devem considerar materiais reutilizáveis e soluções ecologicamente corretas. Mas isso não é tudo. Acreditamos que a arquitetura contemporânea tem o dever de transformar e ressignificar as estruturas existentes, e não apenas demolir e construir novas. O grande desafio está em como reutilizar e adaptar as estruturas existentes para que as mesmas sejam melhores e mais eficientes. Existem uma infinidade de edifícios e lugares que precisam ser “cuidados” por arquitetos e urbanistas. Em seus princípios básicos, essa forma de pensar é muito ecológica e sustentável e, portanto, um caminho a se seguir.
Vocês se espelham em alguém, quem são as suas principais referências na arquitetura atualmente?
Michal Kristof: Acho que sempre foi o OMA, desde os tempos de estudante até agora.
Ondřej Chybik: Não sinto que eu tenha um ponto de referência assim tão claro. No entanto, me interesso muito pelo trabalho de meus colegas, arquitetos da nossa geração. Eu procuro observar outros jovens arquitetos e escritórios de arquitetura ao invés de ficar olhando para o trabalho das gerações prévias.
Vocês tem escritórios em Praga, Brno e Bratislava. O que faz destas cidades diferentes, e como isso influencia os projetos que vocês desenvolvem em cada uma de suas sedes?
Michal Kristof: É evidente que essas cidades estejam moldando o nosso trabalho de alguma maneira. Cada localidade conta com uma história própria e um patrimônio arquitetônico único, uma composição de diferentes estilos e arquiteturas coexistindo em perfeita harmonia. Estas cidades são bastante inspiradoras em relação à sua urbanidade, aos espaços públicos, etc. Praga é conhecida pelo cubismo, Brno, pela arquitetura moderna dos anos 30, e Bratislava, o modernismo dos anos 60. Cada uma delas é única à sua maneira. Praga é um centro cultural, Brno é uma cidade menor, mais acolhedora e muito agradável de se viver, Bratislava, por sua vez, é uma capital muito vibrante e bastante dinâmica. Em muitos casos, buscamos inspiração para nossos projetos nesta mistura de qualidades, buscamos aprender do passado mas mantendo um olho fixo no futuro.
Com esse olhar para o futuro, vocês diriam que há algo importante e que todos os arquitetos deveriam estar atentos?
Ondřej Chybik: Sem dúvida que sim. O mais importante hoje, no meu ponto de vista, é renovar, reutilizar e adaptar. Os arquitetos devem ser capazes de transformar todos os tipos de ambientes em que vivemos, desde edifícios existentes até espaços urbanos e cidades. Além disso, outros aspectos do trabalho do arquiteto não são menos importantes—compreender a história do lugar e as características específicas de cada projeto, assim como as necessidades de cada cliente. É importante que estejamos atentos a novas formas de materializar tais anseios e necessidades.